Revista Ciencias de la Actividad Física UCM, 24(1), enero - junio,
2023. ISSN: 0719-4013
Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout em professores de Educação Física da Educação Básica Satisfacción laboral y síndrome de Burnout en docentes de Educación Física de Educación Básica Job Satisfaction and Burnout Syndrome in Physical Education Teachers in Grade School Ana Paula Franciosi 1, Suelen Vicente Vieira 2 & Jorge Both 3
Franciosi, A. P., Vieira, S. V., & Both, J. (2023). Satisfação no
Trabalho e Síndrome de Burnout em professores de Educação Física da
Educação Básica. Revista Ciencias de la Actividad Física UCM, 24(1),
enero-junio, 1-18. https://doi.org/10.29035/rcaf.24.1.2
RESUMO O processo evolutivo da trajetória da carreira docente é caracterizado por fatores que podem interferir na qualidade de vida e na satisfação no trabalho. Assim, o objetivo deste estudo foi correlacionar à Satisfação no Trabalho e a Síndrome de Burnout de professores de Educação Física da Educação Básica. Participaram 59 professores de Educação Física vinculados às redes municipal e estadual e atuantes na cidade de Arapongas – Paraná – Brasil. Os instrumentos para coleta de dados foram: questionário sociodemográfico, Escala de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho Percebida por Professores de Educação Física e a Escala de Caracterização do Burnout. Para análise de dados, empregou-se os testes de qui-quadrado, de correlação de Spearman e de Friedman. Identificou-se o perfil de docentes de uma cidade de médio a grande porte, o qual revelou ser em sua maioria: mulheres, pós-graduadas, vinculadas ao município, atuantes no Ensino Fundamental I, que não lecionavam em zona de risco, possuíam companheiro, apresentavam entre 11 a 20 anos de carreira, atuavam para 8 turmas ou mais, trabalhavam mais de 21 horas por semana e tinham até 39 anos de idade. Também foi contatado que as dimensões de Exaustão Emocional da Síndrome de Burnout e Relevância Social e Integração Social da Satisfação no Trabalho são determinantes nos seus respectivos modelos. Destaca-se que o endereço social desta pesquisa, é caracterizado como um bom indica-dor para compreender o perfil dos professores e das correlações existentes nos constructos de Satisfação no Trabalho e da Síndrome de Burnout em professores de Educação Física da Educação Básica. Palavras chave: Docentes, Satisfação no trabalho, Doença, Educação Física. RESUMEN El proceso evolutivo de la trayectoria de la carrera docente se caracteriza por factores que pueden interferir en la calidad de vida y la satisfacción laboral. Así, el objetivo de este estudio fue correlacionar la Satisfacción Laboral y el Síndrome de Burnout en profesores de Educación Física en la Educación Básica. Participaron 59 profesores de Educación Física vinculados a redes municipales y estaduales y que actúan en la ciudad de Arapongas – Paraná – Brasil. Los instrumentos para la recolección de datos fueron: un cuestionario sociodemográfico, la Escala de Evaluación de la Calidad de Vida Laboral Percibida por los Profesores de Educación Física y la Escala de Caracterización del Burnout. Para el análisis de los datos se utilizaron las pruebas de correlación de chi-cuadrado, Spearman y Friedman. Se identificó el perfil de los docentes de una ciudad mediana a grande, que reveló ser en su mayoría: mujeres, posgraduadas, vinculadas al municipio, que trabajaban en la Enseñanza Básica I, que no impartían docencia en zona de riesgo, tenían pareja, tenían entre 11 y 20 años de carrera, trabajaba para ocho grupos o más, trabajaba más de 21 horas semanales y tenía hasta 39 años. También se contactó que las dimensiones de Agotamiento Emocional del Síndrome de Burnout y Relevancia Social e Integración Social de la Satisfacción en el Trabajo son determinantes en sus respectivos modelos. Se destaca que la dirección social de esta investigación se caracteriza por ser un buen indicador para comprender el perfil de los docentes y las correlaciones existentes en los constructos Satisfacción Laboral y Síndrome de Burnout en docentes de Educación Física de Educación Básica. Palabras clave: Docentes, Satisfacción en el trabajo, Enfermedad, Educación física. ABSTRACT The evolutionary process of the teaching career trajectory is characterized by factors that can interfere with quality of life and job satisfaction. Thus, the objective of this study was to correlate job satisfaction and Burnout Syndrome in physical education teachers in Grade School. 59 Physical Education teachers linked to municipal and state networks, and who worked in the city of Arapongas – Paraná – Brazil, participated. The instruments for data collection were a sociodemographic questionnaire, the Quality of Work Life Assessment Scale Perceived by Physical Education Teachers, and the Burnout Characterization Scale. For data analysis, the chi-square, Spearman, and Friedman correlation tests were used. The profile of teachers in a medium to large city was identified, and it revealed to be mostly: women, postgraduates, linked to the municipality, working in Elementary School, who did not teach in a risk zone, had a partner, had a career between 11 and 20 years long, worked for 8 groups or more, worked more than 21 hours a week, and were up to 39 years old. It was also learned that the dimensions of Emotional Exhaustion from Burnout Syndrome and Social Relevance, and Social Integration of Satisfaction at Work are determinant in their respective models. It is important to emphasize that the social perspective of this research is known to be a good indicator in understanding teacher’s profiles and the existing correlations between the constructs of Job Satisfaction and Burnout Syndrome; for Physical Education teachers of Grade School. Key words: Teachers, Job satisfaction, Illness, Physical Education. 1 Centro Universitário de Maringá. Arapongas, Brasil. https://orcid.org/0000-0001-9111-8925 | anapfranciosi@gmail.com 2 Universidade Estadual de Londrina. Londrina, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-4604-5023 | suelen.vv91@gmail.com 3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Marechal Cândido Rondon, Brasil. https://orcid.org/0000-0002-8238-5682 | jorgeboth@yahoo.com.br
INTRODUCCIÓN
A atuação pedagógica é caracterizada por diversos fatores, entre eles os aspectos pessoais e os profissionais, os quais são relacionados à demanda de trabalho (Fortes & Nacarato, 2020). Dessa forma, a carreira docente é configurada como um processo evolutivo que pode sofrer mudanças ao longo da trajetória de acordo com a prática e o tempo de exercício da profissão, constituindo as variadas experiências desse profissional (Guisso & Guesser, 2019). De tal modo, reflexões acerca da vida profissional e da Satisfação no Trabalho se mostram relevantes. De fato, a satisfação no trabalho pode ser definida como uma condição emocional que é resultada do convívio de profissionais de acordo com as características pessoais, valores e expectativas com o ambiente e a organização do trabalho e, que podem influenciar a percepção de bem-estar e qualidade de vida do trabalhador (Atmaca et al., 2020). Em complemento, a Satisfação no Trabalho é consequência de avaliações particulares referentes aos aspectos profissionais (Nascimento et al., 2021). Os domínios que podem auxiliar nesse processo de avaliação do trabalho são: remuneração, condições de trabalho, equilíbrio de tempo dedicado para o trabalho e para o lazer, progressão na carreira, leis e normas do trabalho, relevância do trabalho, autonomia no trabalho e integração social no trabalho (Walton, 1973). O nível de Satisfação no Trabalho pode interferir na carreira docente, pois a profissão é caracterizada como processo instável, o que leva os professores a se adequarem a novos artifícios no decorrer da carreira, considerando as demandas da sociedade (Dalcin & Carlotto, 2018; Nascimento et al., 2021). É evidente que as mudanças transformações digitais proporcionaram melhorias, como o avanço do desenvolvimento tecnológico, o qual possibilitou inúmeros recursos e avanços na sociedade. Entretanto, com as alterações e intensificações do trabalho, tornaram-se mais propícios os impactos na saúde do trabalhador, desencadeando doenças do trabalho (Saloviita & Pakarinen, 2021). A Síndrome de Burnout é um exemplo de patologia que afeta a saúde dos trabalhadores. Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, a doença é caracterizada pelo estresse de estado crônico e é desenvolvida em ambientes de trabalho que se caracterizam em excessiva pressão, conflitos e que não apresentam recompensas, reconhecimento ou gratificações suficientes (Dalcin & Carlotto, 2018; Santana et al., 2021). Apresenta como particularidades a desistência da profissão, perda de energia, fadiga, cansaço, exaustão, aborrecimento, inflexibilidade, irritabilidade e rigidez (Saloviita & Pakarinen, 2021). A Síndrome de Burnout apresenta três dimensões: exaustão emocional (ausência de energia e sensação de esgotamento), desumanização (distanciamento e desenvolvimento de atitudes negativas) e decepção no trabalho (sentimento de fracasso e incompetência) (Tamayo & Tróccoli, 2009). Ao analisar o trabalho docente, evidencia-se a propensão ao desenvolvimento de burnout. A Síndrome de Burnout surge a partir da divergência entre a realidade da vida escolar e dos ideais que o professor acredita que irá encontrar (Santana et al., 2021). Destaca-se que alguns estudos sobre professores de educação física evidenciaram que essa categoria docente parece estar mais exposta à Síndrome de Burnout (Dalcin & Carlotto, 2018; Saloviita & Pakarinen, 2021). De fato, o trabalho docente por meio da disciplina de educação física possui algumas particularidades quando comparado aos demais componentes escolares. Dentre essas especificidades evidencia-se a falta de materiais e infraestrutura necessária para desenvolvimento das aulas, o elevado número de alunos por turma, carga horária excessiva, falta de reconhecimento e valorização profissional (Oliveira et al., 2018). Portanto, a partir de exposto se faz importante averiguar de que forma se relacionam a Satisfação no Trabalho e os aspectos vínculos a Síndrome de Burnout em professores de educação física. Neste sentido, o objetivo deste estudo foi de correlacionar a Satisfação no Trabalho e a Síndrome de Burnout de professores de Educação Física que atuavam na educação básica. MÉTODOS Amostra e processo O estudo apresentou resultados de uma pesquisa de campo de características descritivas, corte transversal e abordagem quantitativa. A amostra foi composta por 59 professores de educação física que atuavam na cidade de Arapongas, localizada ao norte do estado do Paraná – Brasil. Os participantes foram elegidos de acordo com a aceitação em participação na pesquisa, visto que, todos os docentes atuantes na disciplina de educação física, nas redes estaduais e municipais da cidade de Arapongas foram convidados para colaboração na pesquisa. Destaca-se que, segundo o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no ano de 2010, a cidade possuía Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,748, sendo considerado como classificação média (0,500-0,799). Ainda no ano de 2010, Arapongas contava com 104.150 habitantes e a estimativa para o ano de 2020, segundo o IBGE era de 124.810 indivíduos, o que caracteriza como sendo um município de médio a grande porte. Sua população é constituída principalmente por imigrantes italianos, japoneses e eslavos, sendo que a economia é baseada na agricultura e na indústria moveleira. A cidade de Arapongas, é considerada o destaque moveleiro do Estado do Paraná-Brasil. Salienta-se que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE: 17059819.0.0000.5231). Variáveis e instrumentos A coleta de dados ocorreu durante o ano de 2019 nas escolas de atuação dos docentes, por meio de horário previamente agendado para o encontro dos professores durante a hora-atividade, momento este em que o profissional pode realizar os planejamentos das aulas, correções de atividades, e os demais afazeres. Os instrumentos para coleta de dados foram três, sendo: um questionário sociodemográfico, “Escala de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho Percebida por Professores de Educação Física” (QVT-PEF) (Both et al., 2006), e “Escala de Caracterização do Burnout” (ECB) (Tamayo & Tróccoli, 2009). O questionário sociodemográfico foi utilizado para caracterizar a amostra. Para tanto foram solicitadas as seguintes informações: sexo, principal vínculo empregatício, carga horária de trabalho, estado civil, formação acadêmica, pluriemprego profissional, atuação em qual nível da educação básica, escola em zona de risco, ciclo de desenvolvimento profissional e número de turmas. Destaca-se que o questionário da “Escala de Avaliação da Qualidade de Vida no Trabalho Percebida por Professores de Educação Física” (QVT-PEF) (Both et al., 2006) busca avaliar a qualidade de vida no trabalho considerando o nível de satisfação no ambiente laboral. O instrumento é composto por 34 questões distribuídas em oito dimensões, as quais são: Remuneração; Condições de Trabalho; Autonomia no Trabalho; Progressão na Carreira, Integração Social, Leis e Normas do Trabalho, Trabalho e Espaço Total de Vida e Relevância Social do Trabalho. Para responder ao questionário é solicitado que o participante declare sua opinião considerando a escala likert, na qual o conceito “1” corresponde a “discordo totalmente” e o conceito “7” é equivalente a “concordo totalmente”. É importante salientar que a consistência interna geral do instrumento foi de 0,9482, o que é considerada excelente de acordo com os cortes estabelecidos por Hill & Hill (2000). A “Escala de Caracterização do Burnout” (ECB) (Tamayo & Tróccoli, 2009) visa avaliar a Síndrome de Burnout. O instrumento é organizado em 35 questões distribuídas em três dimensões: Desumanização, Decepção no Trabalho e Exaustão Emocional. Neste questionário, o participante deve responder os itens considerando uma escala likert de cinco pontos, em que o conceito “1” equivalente a “nunca” e o conceito “5” compatível a “sempre”. Ressalta-se que a consistência interna das dimensões do constructo, mediadas pelo teste alfa de Cronbach foram satisfatórias: a Exaustão Emocional foi 0,93; Desumanização apresentou 0,84; Decepção no Trabalho foi 0,90. Análise de dados Para análise de dados, inicialmente foi realizada a distribuição dos dados considerando o teste de Kolmogorov-Smirnov. Ao constatar a não distribuição normal dos dados empregou-se os testes de Qui-quadrado para grupo único com proporções equivalentes com o objetivo de avaliar as variáveis sociodemográficas; o teste de Friedman foi utilizado para comparar as dimensões dos constructos de Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout, e, o teste de correlação de Spearman para avaliar a correlação entre os constructos da Síndrome de Burnout e Satisfação no Trabalho. O programa estatístico utilizado para a análise de dados foi o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 20.0 Destaca-se que o teste de post hoc Comparação Múltipla de Dunn foi empregado para avaliar de forma pormenorizada os resultados do teste de Friedman. O nível de significância adotado nas análises estatísticas foi de 95% (p<0,05). Por fim, foram considerados para a análise dos índices de correlação, a adaptação dos pontos de corte indicados por Mitra & Lankdford (1999), os quais são: 0,00 a 0,19 – correlação muito fraca; 0,20 a 0,39 – correlação fraca; 0,40 a 0,59 – correlação moderada; 0,60 a 0,79 – correlação forte; 0,80 a 1,00 – correlação muito forte. RESULTADOS Na avaliação dos dados sociodemográficos foi possível identificar que a maioria dos professores participantes da pesquisa revelou: ser mulher (62,7%), ter pós-graduação (88,1%), ter vínculo empregatício com o município (67,8%), atuar no Ensino Fundamental Anos Iniciais (69,5%), não lecionar em zona de risco (76,3%), possuir companheiro(a) (67,8%), ter entre 11 à 20 anos de experiência docente em Educação Física (64,2%), lecionar aulas para 8 turmas ou mais (64,4%), trabalhar mais de 21 horas por semana (66,1%), ter até 39 anos (64,4%) (Tabela 1). Tabela 1 Perfil sociodemográfico dos professores de Educação Física. *Probabilidade estimada pelo teste qui-quadrado para grupo único com proporções equivalentes. Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados das análises, 2021. Ao avaliar o constructo da Satisfação no Trabalho, evidenciou-se que os índices referentes às dimensões: Remuneração, Condições de Trabalho, Integração no Trabalho, Trabalho e Espaço Total de Vida apresentaram os escores mais baixos. Destaca-se que a dimensão Trabalho e Espaço Total de Vida apresentou diferenças significativas com todas as demais dimensões e deste modo, demonstrou ser uma variável delimitadora do nível de satisfação e insatisfação dos professores. Por outro lado, as dimensões de Autonomia no Trabalho, Leis e Normas no Trabalho, Relevância Social do Trabalho e Progressão na Carreira demonstraram os maiores índices de satisfação. Tais resultados influenciaram de forma positiva a avaliação global da Satisfação no Trabalho. Em relação à Síndrome de Burnout, observou-se que a Exaustão Emocional denotou o maior índice quando comparado com as dimensões Desumanização e Decepção do Trabalho (Tabela 2). Tabela 2 Avaliação dos constructos da Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout dos professores de Educação Física. *Probabilidade estimada pelo teste de Friedman. Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados das análises, 2020. Ao correlacionar o constructo da Satisfação no Trabalho (Tabela 3) observou-se forte correlação da avaliação global com as dimensões de Condições de Trabalho (r=0,658), Autonomia no Trabalho (r=0,779), Integração no Trabalho (r=0,688), Leis e Normas no Trabalho (r=0,698) e Relevância Social no Trabalho (r=0,738). Por outro lado, as dimensões de Remuneração (r=0,447) e Progressão na Carreira (r=0,536) evidenciaram moderada correlação com a avaliação global. Ressalta-se que a Remuneração evidenciou os menores escores de correlação no cruzamento com as demais dimensões e com a avaliação global do constructo. Entretanto, a Relevância Social no Trabalho e a Integração Social no Trabalho evidenciaram maior número de correlação forte com as demais dimensões do constructo. Além disso, as dimensões de Leis e Normas no Trabalho e Trabalho e Espaço Total de Vida demonstraram maior número de correlações moderadas com as demais dimensões do constructo da Satisfação no Trabalho (Tabela 3). Tabela 3 Correlação do constructo da Satisfação no Trabalho. *p<0,05 - Probabilidade estimada pelo teste de correlação de Spearman Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados das análises, 2020. Em relação ao constructo da Síndrome de Burnout (Tabela 4), evidenciou-se correlação muito forte entre as dimensões Exaustão Emocional e Decepção no Trabalho (r=0,820). Correspondência forte foi evidenciada entre as dimensões Exaustão Emocional e Desumanização (r=0,602). Por fim, observou-se correlação moderada entre as dimensões Desumanização e Decepção no Trabalho (r=0,519). Tabela 4 Correlação do constructo da Síndrome de Burnout. *p<0,05 - Probabilidade estimada pelo teste de correlação de Spearman. Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados das análises, 2020. Ao correlacionar os constructos da Satisfação no Trabalho e da Síndrome de Burnout (Tabela 5), constatou-se que as dimensões da Síndrome de Burnout evidenciaram moderada correlação com a avaliação global da satisfação no trabalho, sendo que a dimensão Exaustão Emocional (r=0,562) evidenciou o maior índice de correlação. Em complemento, de modo geral a dimensão Exaustão Emocional apresentou os maiores índices de correspondência moderadas com a maioria das dimensões do constructo da Satisfação no Trabalho: Condições de Trabalho (r=0,500), Autonomia no Trabalho (r=0,558), Progressão na Carreira (r=0,484), Integração no Trabalho (r=0,544), Leis e Normas no Trabalho (r=0,433), Trabalho Espaço Total de Vida (r=0,518), Relevância Social no Trabalho (r=0,474), quando comparada com as demais dimensões da Síndrome de Burnout. Ressalta-se que a dimensão Remuneração não apresentou correlação significativa com as dimensões da Síndrome de Burnout. Ao considerar o objetivo do trabalho, o qual foi avaliar o nível de correlação entre os constructos da Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout, observou-se, de maneira geral, que a Remuneração apresentou-se ser destoante das demais dimensões da Satisfação no Trabalho, por não evidenciar correlações com as demais dimensões do constructo. No que se refere à Síndrome de Burnout, a dimensão Exaustão Emocional foi determinante no constructo, pelo fato de demonstrar maiores correlações com as dimensões da Satisfação no Trabalho. A dimensão de Desumanização apresentou fraca correlação com as dimensões de Trabalho e Espaço Total de Vida (r=0,369) e Relevância Social no Trabalho (r=0,385). Por outro lado, as dimensões: Condições de Trabalho (r=0,457), Autonomia no Trabalho (r=0,537) e Integração no Trabalho (r=0,542) do constructo da Satisfação no Trabalho apresentaram correlações moderadas. Além disso, a dimensão Decepção no Trabalho apresentou fraca correlação com Condições de Trabalho (r=0,344) e Leis de Normas no Trabalho (r=0,362). As demais dimensões do constructo de Satisfação no Trabalho apresentaram correlações moderadas, as quais foram: Autonomia no Trabalho (r=0,485), Progressão na Carreira (r=0,559), Integração no Trabalho (r=0,463), Trabalho e Espaço Total de Vida (r=0,478) e Relevância Social no Trabalho (r=0,453) (Tabela 5). Tabela 5 Correlação entre os constructos da Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout. *p<0,05 - Probabilidade estimada pelo teste de correlação de Spearman Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados das análises, 2020. DISCUSIÓN Ao analisar o perfil dos professores participantes desse estudo observou-se que a maioria dos docentes era do sexo feminino. Essa evidência pode ser explicada por conta da desvalorização dos professores no Brasil, principalmente a partir do século XIX, devido à baixa remuneração e aversão à docência, que resultou na saída de muitos homens da profissão. Por outro lado, por meio da ausência de professores, abriu-se espaço para que as mulheres pudessem exercer a vida pública, e em contrapartida deveriam aceitar as condições desfavoráveis ao trabalho (Souza & Melo, 2018). Além disso, os docentes relataram ter realizado pós-graduação, o que demonstra investimento nos conhecimentos da formação continuada (Freitas et al., 2017). Professores que investem em formação continuada tendem a produzir reflexões mais profundas sobre a prática pedagógica, acerca das suas aulas e conseguem, algumas vezes, transformar aspectos profissionais (Trebien et al., 2020). A realização da pós-graduação pode proporcionar progressão e ascensão na carreira, o que interfere positivamente no aumento dos honorários. Deste modo, é possível afirmar que a formação continuada contribui para transformação qualitativa do desempenho profissional e maior valorização docente (Lidoino et al., 2020). A explicação para que o maior número de professores provenha do município pode ser realizada a partir do número de escolas municipais e de alunos matriculados nestas instituições da região investigada, o que ocasiona maior necessidade de contratação de profissionais e, consequentemente, superioridade na porcentagem de docentes. Portanto, é possível afirmar que os professores atuam em maioria com os alunos menores, do Ensino Fundamental Anos Iniciais, que é de responsabilidade dos municípios, e desta forma, lecionam pouco ou não lecionam no Ensino Fundamental Anos Finais e no Ensino Médio. Além disso, atualmente os municípios apresentam mais formas de inserção profissional em comparação com o estado, o qual não realizou concursos públicos nos últimos anos (Matijascic, 2017). Ressalta-se que Arapongas, caracteriza-se como um município de médio à grande porte, localizado ao norte do estado do Paraná. O tamanho do endereço social é um fator diferencial na análise dos resultados, visto que, municípios com esta característica não possuem, por exemplo, muitas zonas de risco ou periféricas. Desta maneira, o perfil dos professores se encontra delimitado de acordo com a região e realidade em que estão inseridos. Essas considerações podem justificar a evidência encontrada no estudo de que a maior parte dos professores participantes não atuam em zona de risco. Em complemento, grande parte das escolas municipais, se inserem em regiões centrais, e a maioria da amostra deste estudo atua no Ensino Fundamental Anos Iniciais, a qual é de competência do governo municipal. Evidenciou-se que a maior porcentagem de professores atua em 8 turmas ou mais. Tal resultado é consequência da falta de realização de concursos públicos para contratação de professores tanto por parte do estado do Paraná, quando pelo município de Arapongas. Além disso, o elevado número de professores em processo de aposentadoria sobrecarrega as demandas dos governos públicos. Assim, é intensificada a necessidade dos docentes a aumentarem a carga horária de trabalho, e, consequentemente, o número de turmas (Seki et al., 2017). Ao analisar o constructo de Satisfação no Trabalho, identificou-se que os professores demonstraram maior insatisfação com as dimensões de Remuneração, Condições de Trabalho e Integração no Trabalho. Corroborando com esses resultados, estudos na realidade brasileira (Nascimento et al., 2016), na realidade do Qatar (Al-Mohannadi & Capel, 2007) e da Espanha (Munoz-Mendez et al., 2017), encontraram evidências similares. É possível confirmar que a insatisfação está centrada nas questões acerca da remuneração e das condições de trabalho. Isso porque, em teoria, os salários dos professores deveriam ser baseados com a qualificação profissional, seguindo o plano de carreira, que, consequentemente, deveria propor melhor remuneração mediante avanços e investimentos profissionais, assim como, assumir cargos administrativos (Toropova et al., 2021). Além disso, as reformas trabalhistas e os ataques governamentais, são condições que corroboram com a insatisfação no trabalho dos professores, visto que, essas medidas intervêm na autonomia pedagógica e didática, e consequentemente, diminui a Satisfação no Trabalho (Lopes & Oliveira, 2020; Sandoval et al., 2021). O desenvolvimento profissional e salarial é impactado devido à falta de valorização da carreira docente provinda dos órgãos públicos, que não incentivam os profissionais e não compreendem a importância social dos docentes, o que ocasiona descaso com a carreira por parte dos docentes e até mesmo abandono da profissão (Atmaca et al., 2020; Lopes & Oliveira, 2020; Abós et al., 2021). Por meio da valorização da profissão é possível otimizar o processo de ensinar e aprender, por meio da contratação de melhores professores, o que motiva e satisfaz os profissionais (Toropova et al., 2021). Neste sentido, as condições do ambiente de trabalho são fragilidades que podem agravar a saúde mental e física dos docentes, bem como a qualidade de vida, e pode ocasionar doenças do trabalho, tais como a Síndrome de Burnout (Lopes & Oliveira, 2020; Abós et al., 2021; Lopes & Ferrés, 2019). As dimensões de Autonomia no Trabalho, Leis e Normas no Trabalho, Relevância Social do Trabalho e Progressão na Carreira foram as que revelaram melhores índices de satisfação. Tais fatores estão relacionados à oportunidade futura de crescimento e segurança profissional, estabilidade, direitos e deveres, compreensão da importância do trabalho (autoestima do trabalhador), além da oportunidade de uso das capacidades humanas (Guimarães et al., 2020). Além disso, conforme evidenciado nas características sociodemográficas, a maioria dos professores participantes do estudo encontrava-se entre 11 e 20 anos de carreira, sendo classificados na etapa de Afirmação e Diversificação da Carreira, segundo os Ciclos de Desenvolvimento Profissional (Farias et al., 2018). Esta fase se configura como o período de confirmações de estabilização das competências profissionais e, também, das confirmações das ações docentes. As características desta etapa permeiam o domínio da rotina escolar, bem como dos aspectos relacionados à profissão (Farias et al., 2018). Desta maneira, é possível justificar os altos níveis de Satisfação no Trabalho, tais como nas dimensões: Progressão na Carreira, Relevância Social do Trabalho, Autonomia no Trabalho e Leis e Normas no Trabalho, pois o entendimento e compreensão da rotina e dos processos burocráticos do trabalho promovem maior experiência e estabilidade ao docente e, proporcionam consequentemente maior satisfação com a profissão (Nascimento et al., 2016). No que se refere a dimensão de Autonomia no Trabalho, identificou-se influência nos níveis de Satisfação no Trabalho. Isso pode ser esclarecido por que, ao apresentar maiores níveis de liberdade nas ações profissionais, pode-se propiciar potencialidades no comportamento pessoal e profissional, e deste modo, tende a promover bons indicativos na saúde física e mental e na qualidade de vida (Lopes & Oliveira, 2020). As dimensões de Leis e Normas no Trabalho e Progressão no Trabalho estavam relacionadas entre si. No funcionalismo público os concursos promovem estabilidade profissional, efetividade e possibilidade de ascensão na carreira por meio da formação continuada, que são características dessas duas dimensões e que também podem proporcionar maiores índices de Satisfação no Trabalho (Nascimento et al., 2016). Quanto à Relevância Social no Trabalho, assim como demonstrado em outros estudos (Nascimento et al., 2016; Gesser et al., 2019), os professores com mais tempo de atuação se mostraram mais satisfeitos com a dimensão, por conta da valorização social e profissional da profissão. Na análise do constructo da Síndrome de Burnout, a Exaustão Emocional foi a dimensão que se apresentou como o principal fator de preocupação, pois é considerada como a primeira etapa da doença e a porta de entrada para fragilidades nas demais dimensões (Han et al., 2020). Do mesmo modo, tende a ser a principal resposta aos estressores de trabalho (Lee et al., 2019), o que ocasiona efeitos das demandas organizacionais e individuais. Ademais, características apresentadas pela amostra desse estudo, tais como: elevado número de turmas, trabalhar mais de 21 horas por semana e atuar entre 11 a 20 anos na área de docência em Educação Física, foram importantes indicadores para reconhecimento da Exaustão Emocional (Prado et al., 2017). Na análise de correlação das dimensões da Satisfação no Trabalho, principalmente as dimensões que apresentaram maior correlação com a avaliação global (Condições de Trabalho, Autonomia no Trabalho, Integração no Trabalho, Leis e Normas no Trabalho e Relevância Social no Trabalho) destacou-se que professores de uma mesma cidade, com o mesmo vínculo empregatício e carga horária podem ganhar o mesmo salário. Entretanto, algumas variáveis podem ser fundamentais para modificação quanto aos índices de Satisfação no Trabalho. Afinal, as condições laborais, o nível de qualidade de vida, bem como a realidade que o professor está inserido são capazes de transformar as circunstâncias, e podem influenciar a satisfação laboral (Lopes & Oliveira, 2020). As dimensões de Relevância Social e Autonomia no Trabalho reportaram forte correlação com a Avaliação Global da Satisfação no Trabalho, o que pode ser explicado pelas características dessas duas dimensões que são compreendidas pela valorização social e profissional da profissão e, controle sobre as decisões profissionais, respectivamente (Gesser et al., 2019). As dimensões em questão, avaliadas positivamente, contribuem para que exista maiores níveis de Satisfação no Trabalho, pois aprimora a produtividade, dedicação profissional, qualidade do serviço e estimulam a motivação (Kengatharan, 2020). Além disso, a Integração Social na Organização no Trabalho evidenciou fortes correlações com as dimensões de Condições do Trabalho e Autonomia no Trabalho do constructo de Satisfação no Trabalho. Tais resultados estão associados ao fato de a Integração Social reportar os aspectos de relacionamentos pessoais do trabalho. Desta maneira, por meio de melhores condições laborais e maiores níveis de autonomia profissional, é possível haver maior aproximação nos relacionamentos interpessoais. Complementa-se que existem alguns espaços que podem otimizar as relações da Integração Social com as demais dimensões do constructo de Satisfação no Trabalho, como grupos de apoio, que buscam por igualdade e ausência de preconceito (Toropova et al., 2021). A dimensão de Relevância Social apresentou fortes correlações com as dimensões: Condições de Trabalho, Autonomia no Trabalho, Integração no Trabalho e Leis e Normas no Trabalho. Essa evidência pode ser esclarecida porque a Relevância Social é compreendida como a dimensão da valorização profissional e, também, à responsabilidade do empregador (Estado do Paraná e Município de Arapongas) com o empregado e com a sociedade (Oliveira et al., 2017) e Condições de Trabalho, Autonomia no Trabalho, Integração no Trabalho e Leis e Normas no Trabalho influenciam na Relevância Social (valorização profissional) e desta forma, contribuem para a Satisfação no Trabalho (Sandoval et al., 2021). Ao verificar os resultados da correlação do constructo da Síndrome de Burnout, identificou-se que a Exaustão Emocional apresentou correlação muito forte com a Decepção no Trabalho. Tal resultado explica a relação entre o sentimento de esgotamento mental e emocional e o desenvolvimento de estresse, que provoca o impacto no trabalho, acarretando sentimento de incompetência e/ou de insatisfação (Atmaca et al., 2020; Lee et al., 2019), características da dimensão de Decepção no Trabalho. Outra evidência foi a forte correlação da Exaustão Emocional com a Desumanização. Por meio do sentimento de esgotamento, que é característica da dimensão de Exaustão Emocional, é possível que os professores se sintam mais distantes dos relacionamentos profissionais, o que gera indiferença para os envolvidos no processo de ensinar e aprender (Saloviita & Pakarinen, 2021; Santana et al., 2021; Boujut et al., 2016) e, pode provocar maiores índices de Desumanização. A correlação entre as dimensões dos constructos que apresentou correlação moderada foi a de Desumanização com a Decepção no Trabalho, o que evidencia o menor escore de relação da Síndrome de Burnout, ou seja, a maior porcentagem de uma das dimensões não implica necessariamente no aumento da outra. A dimensão da Desumanização está mais relacionada com sentimentos de afastamento e atitudes negativas com os envolvidos no ambiente de trabalho e a dimensão de Decepção no Trabalho atrelada com a sensação de baixa autoestima e incapacidade (Atmaca et al., 2020). Os dados demonstram que a correlação moderada não significa que estas dimensões não estejam relacionadas, apenas que, não se demonstraram intensa como as outras correlações citadas anteriormente. Por fim, na análise da correlação entre os constructos de Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout, a Remuneração se apresentou como uma característica à parte e não se correlacionou com as demais dimensões. Isso porque a baixa gratificação salarial pode não ser condicionante para situações de estresse, doenças do trabalho ou Síndrome de Burnout. A remuneração não é passível de provocar doença ou saúde mental, entretanto, é fator acompanhante das mais variadas situações vivenciadas pelos docentes (Santini, 2004). Deste modo se apresenta como uma dimensão independente, percebida como forma de compensação ou gratificação, que não está diretamente associada à Síndrome de Burnout, além de não ser uma das causas de esgotamento (Santini & Molina, 2005). A dimensão de Leis e Normas no Trabalho não apresentou correlação significativa com a Desumanização, afinal, a última está associada a aspectos, sentimentos e atitudes negativas para com as pessoas envolvidas no meio profissional (Tamayo & Tróccoli, 2009). Como os participantes deste estudo, são vinculados ao funcionalismo público, a legislação vigente ampara todos os profissionais, sem exceção. Neste sentido, é possível que por meio deste indicativo, não tenha ocorrido correlação expressiva entre estas duas dimensões. Quanto à Síndrome de Burnout, a dimensão de Exaustão Emocional apresentou maiores índices de correspondência para o constructo de Satisfação no Trabalho quando comparada às dimensões de Desumanização e Decepção no Trabalho, por apresentar-se como um traço fundamental, mais representativo e fator mais consistente da Síndrome de Burnout (Atmaca et al., 2020; Santana et al., 2021). Desta forma, à maneira que a Exaustão Emocional é concebida como resultado direto do estresse e fator principal da Síndrome de Burnout (Saloviita & Pakarinen, 2021), apresenta relação e influência direta na prática pedagógica do professor, e, consequentemente, nas dimensões da Satisfação no Trabalho. Por meio destas influências, é possível que o indivíduo se sinta menos satisfeito no trabalho e apresente maiores índices da Síndrome de Burnout (Tamayo & Tróccoli, 2009; Boujut et al., 2016). CONCLUSIÓN Ao considerar os resultados da investigação foi possível identificar que existe correlação entre os constructos de Satisfação no Trabalho e Síndrome de Burnout. Destaca-se que além de identificar o perfil de professores de uma cidade de médio a grande porte, constatou-se que as dimensões de Exaustão Emocional, no constructo de Síndrome de Burnout e Relevância Social e Integração Social no constructo de Satisfação no Trabalho são determinantes nos seus respectivos modelos. De maneira específica dentre as dimensões do constructo de Satisfação no Trabalho, as dimensões de Relevância Social e Integração Social apresentaram-se como balizadoras para a construção de bons índices da Satisfação no Trabalho, isso porque contribuem para se atinjam maiores níveis de Satisfação no Trabalho, afinal, favorecem a qualidade do serviço, a produtividade, a dedicação profissional e a motivação. As evidências demonstraram que a Remuneração não é fator determinante para aquisição da Síndrome de Burnout, pois se apresentou como a dimensão mais destoada da Satisfação no Trabalho, o que remete que os honorários recebidos não interferem nos sentimentos de motivação ou de esgotamento profissional. Desta maneira, identifica-se que a alta gratificação salarial não interfere na avaliação global da Satisfação no Trabalho, pois a Remuneração não está diretamente associada à Síndrome de Burnout, além de não ser uma das causas de esgotamento para o grupo investigado. No que se refere ao constructo de Burnout, a Exaustão Emocional apresentou-se como destaque, com correlação muito forte com a Decepção no Trabalho e a correlação forte com a Desumanização. Por ser considerado o principal traço da Síndrome de Burnout, a Exaustão Emocional é o fator fundamental para desenvolvimento da doença, bem como está mais associada ao estresse e com as dimensões do constructo da Síndrome de Burnout. Em complemento, ao associar os constructos da Satisfação no Trabalho e da Síndrome de Burnout, a Exaustão Emocional foi a dimensão que mais apresentou correlações entre os constructos. Em contrapartida, a dimensão da Síndrome de Burnout que apresentou menores escores de correlação foi a Desumanização, pois a mesma está relacionada com atitudes negativas e sentimentos de afastamento dos professores com os envolvidos no processo de ensinar e aprender, sejam os alunos, os pais, os outros funcionários da instituição de ensino. Destaca-se que o endereço social desta pesquisa, uma cidade de médio à grande porte, é caracterizado como um bom indicador para compreender o perfil dos professores e das correlações existentes nos constructos de Satisfação no Trabalho e da Síndrome de Burnout em professores de Educação Física da Educação Básica. Arapongas, o município em questão, localizado ao norte do Estado do Paraná apresenta particularidades, pois não apresenta um número elevado de instituições de ensino da educação, e, consequentemente, o número de professores de Educação Física também é baixo. Por fim, a realização de mais estudos se faz importante para que outras realidades sejam compreendidas, a fim de contribuir para potencializar a Satisfação no Trabalho e atenuar os índices da Síndrome de Burnout. Afinal, por meios das evidências científicas é possível demonstrar à população e governantes ações que podem ser organizadas com intuito de beneficiar não apenas às condições de trabalho, valorização e remuneração dos docentes, mas também colaborar para incremento do processo de ensino e aprendizagem, bem como para potencializar melhorias na qualidade de vida dos professores.
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